
O Web Summit voltou a ganhar palco em Lisboa, trazendo temas que moldam o presente e antecipam o futuro.
Entre tantos tópicos relevantes, destacaram-se, na minha opinião, o papel das mulheres na tecnologia, a importância da liberdade de imprensa, a inteligência artificial - riscos, oportunidades e desafios, a evolução, protecção e direito à monetização da nossa identidade digital.
Uma edição marcada por propósito, diversidade e pensamento crítico.

Este ano tive o privilégio de entrevistar duas mulheres cuja visão e trabalho representam a nova geração de liderança feminina...Corajosa, criativa e profundamente consciente do seu propósito.

Julieta Rueff, fundadora da FlamAid, uma solução pioneira que responde a uma necessidade urgente, a segurança das mulheres no seu quotidiano.
A conversa com a Julieta foi muito inspiradora! Falámos sobre a génese do projecto, que surgiu depois da própria se ter sentido ameaçada numa saída à noite. Isto levou-a a desenvolver um device, a granada pacífica, que permite acionar um alarme imediato, ligado à polícia (e contactos de emergência), bem como captação de áudio e vídeo (constituindo prova), tendo ajudado várias mulheres em situação de perigo. Conversámos sobre a forma como tecnologia, design e missão social se encontram e sobre os próximos passos da marca, que passa por criar joias inteligentes, igualmente com mecanismo de defesa, prometendo transformar a forma como as mulheres se protegem, se movimentam e se sentem no mundo.

De igual forma, a Julieta partilhou o desafio de ser uma jovem mulher, numa área tipicamente masculina, e os entraves que teve à partida. Apenas 2% do investimento na Europa é para mulheres, o que torna tudo mais difícil. No entanto, deixa uma mensagem de esperança: “Se há um propósito, especialmente se é um propósito social, lança já esse projecto!”. Vejam o reels com a entrevista aqui.

Também entrevistei Ashumi Sanghvi, fundadora premiada e estratega, actuando na intersecção entre as áreas de luxo, cultura e tecnologia emergente. Como CEO da Future+ e da MAD Global, trabalha com marcas de luxo com história, startups e investidores para moldar experiências imersivas, storytelling digital e expansão global.
Paralelamente à sua presença como moderadora no painel “Scaling desire: The new rules of luxury exclusivity”, tivemos esta conversa, explorando como o luxo actualmente equilibra propósito, experiência e propriedade, através das lentes da inovação, identidade e relevância cultural.
Falámos sobre como o luxo está a mudar, e a tese de Ashumi não podia ser mais atual:
Hoje, o verdadeiro luxo não está apenas no objecto, mas na experiência, na emoção e no propósito que uma marca é capaz de criar.

Discutimos ainda como as colaborações, as experiências imersivas, os espaços físicos (como cafés, galerias ou instalações culturais) e a curadoria de lifestyle estão a redefinir a forma como as marcas cultivam exclusividade num mundo hiperconectado.
A conversa trouxe clareza sobre um mercado que se reinventa, mas que mantém uma constante. O luxo continua a ser, sobretudo, uma linguagem de desejo, apenas com novos códigos. O artigo completo com a entrevista aqui no blog.

No mesmo painel, Mathieu de Fayet, “Chief Applied Innovation Officer” da LVMH, destacou a importância da tecnologia como aliada da criatividade humana e da experiência do cliente, não como substituta, mas como potenciadora. Integrar inovação digital sem perder herança, exclusividade e desejo.

Outro dos momentos que me marcaram particularmente, foi o painel “Your Digital Self Should Belong to You”, com o actor Joseph Gordon-Levitt. Deixou uma analogia poderosa ao descrever a economia digital actual: “It’s like building the house of your dreams on rented land.” E acrescentou que vivemos numa espécie de “digital feudalism”, onde criadores e utilizadores constroem valor, partilham talento, geram dados, mas não detêm a verdadeira propriedade da sua identidade online. “We should own our digital identity”, defendeu.
Sempre achei que devemos expressar-nos através de plataformas que realmente nos pertencem. Talvez por isso o meu blog tenha sempre sido tão importante para mim. É um espaço que detenho, que não depende de algoritmos ou de decisões de terceiros, e onde posso construir de forma livre, autêntica e permanente, ao contrário das redes sociais, que são, no fundo, terreno arrendado. As palavras de Gordon-Levitt reforçaram esta convicção e o caminho que quero continuar a trilhar no espaço digital.


A liberdade de imprensa também esteve em realce, num momento em que o chamado quarto poder está a ser ameaçado. Cada vez mais, não só em cenários de guerra, mas também em regimes democráticos, como vemos nos Estados Unidos. Na conferência de imprensa, Paddy Cosgrave, sublinhou esta preocupação ao explicar por que razão usou uma camisola feita à mão por uma artesã irlandesa com a palavra “PRESS”. Um gesto simbólico que relembra o papel vital do jornalismo livre, independente e corajoso.

Networking Garden, um dos novos espaços do Web Summit


Entre discussões sobre inteligência artificial e realidades imersivas, um tema inesperado emergiu nos palcos do Web Summit, o regresso ao analógico. Num mundo saturado de ecrãs, há uma procura crescente por experiências que devolvem peso, textura e presença ao quotidiano.

O vinil volta a crescer, não apenas como formato musical, mas como ritual. A fotografia física regressa, não pela nostalgia, mas pela necessidade de memórias que se podem tocar. Mesmo marcas digitais começam a investir em pontos de contacto reais, pop-ups, encontros presenciais, objectos que se colecionam e duram.



The team

O Web Summit voltou a transformar Lisboa no centro do diálogo global sobre tecnologia, inovação e futuro. Saio desta edição com uma certeza...O futuro não será definido pela tecnologia, mas por quem a usa, e por quem tem coragem de questionar, criar, desafiar e reconstruir. E esta premissa funciona, infelizmente, para o bem e para o mal!

Até 2026, Web Summit Lisboa!




































